Memórias d'Algodão Doce

Chegou a hora de fazer balanços. Chegou a hora de escolher o que levar e o que deixar.  Chegou a hora de dizer adeus ao que custa e ao que dói e de agradecer pelo que veio por bem e nos deixou com paz na alma.  Chegou a hora de agradecer até pelo que nos fez crescer e aprender, do que nos fez abrir os olhos para a realidade e nos tornou mais fortes.  Mas acima de tudo, chegou a hora de abrir a porta e arregaçar as mangas para um novo ano, permitindo-nos amar, reconstruir-nos e sonhar.  Que aprendamos a desejar mais, a querer mais, a agradecer mais e a ser mais humildes e caridosos.  Que não nos deixemos abater pelos infortúnios e pelas vozes dos outros e acima de tudo que não deixemos que vivam a nossa vida por nós.  Sejamos mais amor, mais paz, mais verdade.  Sejamos nós acima de tudo e que irradiemos felicidade por nós e pelos outros.  O novo ano chega para nos abraçar e nos dar um novo sentido, mas nós temos de o quer...

É tão difícil chegar onde chegamos. Cada passo é uma incrível batalha. Hoje andamos um passo, amanhã recuamos três, para no dia seguinte andarmos mais dois. Iludimo-nos, desiludimo-nos. Criamos histórias, inventamos personagens e imaginamos os diálogos. Às vezes erramos, outras vezes acertamos. Caímos, levantamo-nos. E é assim todos os dias isto a que chamamos vida. Perdemos pessoas importantes, cruzamo-nos com outras que nunca imaginámos no nosso caminho e que são uma agradável surpresa. Delineamos objectivos, umas vezes alcançamo-los e outras temos de saber conviver com a amarga derrota e com as nossas falhas. Desesperamos, sentimo-nos tentados a desistir e outras vezes desistimos mesmo. Apaixonamo-nos por nós, pelos outros, pelas coisas do dia-a-dia, e amamos, amamos muito a vida e deixamos que ela ponha e disponha de nós e do nosso caminho. Ela sabe onde nos leva e para onde vamos amanhã.  Hoje dói, hoje custa, mas amanhã será melhor, basta acreditar. Ter fé e nunc...

E de repente vem aquela melancolia, aquela vontade de querer voltar atrás e mudar tudo e mais alguma coisa.  De repente vem aquela saudade daquilo que poderia ter sido e não foi, daquilo que sonhámos e não aconteceu.  De repente vem aquela vontade de arrumar tudo no seu devido lugar, colocar na mala aquilo que queremos transportar e arrumar no baú aquilo que não queremos voltar a ver.  E parece que foi tanto e é tão pouco comparando com uma vida inteira, mas foi vivido com tanta intensidade que quase parece uma imensidão.  Foram coisas tão boas que nos perdemos no tempo a revivê-las e coisas tão más que não lhes queremos tocar para não termos de segurar as lágrimas.  E de repente reparamos que já vivemos tanto, que já desejámos tanto, sonhámos tanto e ainda nos falta tanto, tanto... E que o tanto de amanhã seja melhor do que o tanto que já vivemos. Que o tanto de hoje seja pouco amanhã.  Sonhemos mais, vivamos mais. 

O tempo faz-nos egoístas. Não egoístas no verdadeiro sentido da palavra, em que queremos tudo e não queremos dar nada. Mas há pelo menos uma coisa em que o somos. Somos egoístas nas pessoas. Sentimos que os outros são "nossos". Aqueles que cruzam o nosso caminho e nos marcam, são nossos e não queremos abdicar deles. São nossos porque nos fazem sorrir todos os dias, mas também nos fazem chorar, mas fazem-nos acima de tudo sentir alguma coisa. Sentir amor, amizade, compaixão, admiração. Fazem-nos sentir nós, deixam-nos "ser" sem fingimentos e constrangimentos. E nós, nós não queremos abrir mão de quem nos faz sentir tanto.  É tão bom sentirmo-nos aconchegados, sentir que seremos eternos nas memórias daquelas pessoas e sentir que também elas serão eternas em nós e, por isso, seremos sempre egoístas.  Aquilo que é nosso será sempre nosso, seja neste mundo ou no outro. Então guardemos de mãos bem fechadas o que é bom em nós, porque o que é bom, será sempre noss...

Vejo em mim tanto de ti. Olho-me ao espelho e vejo-te em mim, na minha pele, no meu cabelo, no meu nariz, na minha boca. E não é só no natal que me lembro de ti quando te vejo, é todos os dias, mas talvez no natal te sinta mais em mim ou talvez no natal tenha mais saudades de te ter perto de mim. Sei que aqui estás, mesmo não te vendo. Sinto-te no calor da casa da mãe, na cumplicidade de cada gesto nosso. Sinto-te na união, na imensidão da gratidão e no orgulho na família que criaste. Mas ainda assim fazes-me falta. Tanto de ti faz tanta falta em mim e não é por ser natal, mas hoje especialmente fazes falta em mim. 

Pensei mil vezes em não te deixar entrar. Tinha medo, muito medo na verdade, que também tu me magoasses e fizesses de mim aquilo que querias. Julguei até nunca conseguir mostrar-te aquilo que realmente sou. Aquela capa fria teimava em não sair.  Mas tu foste tentando, sem nunca desistires de mim. Acho que sempre soubeste que no fundo eu não era assim, que por trás de todo aquele ar de "não quero saber de ti" e "pouco me importa o que tu pensas" haveria alguém com muito amor para dar.  Foste tu, não eu, que fez com que tudo mudasse, com que eu redescobrisse em mim a pessoa que há muito pensava perdida no fundo das minhas memórias. Conseguiste ir buscar tudo o que era bom em mim. Conseguiste "buscar-me". Encontraste os meus sonhos, as minhas alegrias, o meu lado bom, mas também percebeste as minhas fragilidades, os meus medos e quais os pontos que saberias que se tocasses iriam facilmente fazer-me de novo ser quem eu não queria. Fizeste-me lut...

Há alturas em que é difícil parar para pensar. O tempo é tão escasso, a vida corre tão rápido que nós corremos atrás dela para que nada nos escape. A verdade é que, quando começamos nessa agitação, esperamos que quando pararmos tudo permaneça exactamente igual, tudo arrumado nos mesmos sítios sem que nada se tivesse mexido. Certamente, as coisas mudam, nós próprios mudamos. A nossa maneira de ver as coisas deixa de ser a mesma e, na maioria das vezes, olhamos para aquilo que deixámos arrumado num determinado local e já não faz sentido ali estar. Muitas vezes as coisas deixam de lá estar, elas próprias movem-se e fogem do seu lugar e nós, ou temos vontade de as voltarmos a colocar onde estavam, ou deixamos que elas tomem a sua própria decisão de voltar ou ir de vez. A vida é mesmo assim, tudo toma o seu rumo e na grande parte das vezes já deveríamos estar à espera que assim fosse. Perdemos algumas coisas, ganhamos outras, mas aquelas que permanecem fortificam-se, os laços torn...

O amor é um vício... Um vicio como o chocolate que comemos desenfreadamente até vermos o fim à caixa. Um vicio doce, um vicio que nos acalma e que nos estimula. Um  vício de um corpo desejado, de um cheiro entranhado em nós.  Um vício de uma palavra que nos aquece o coração, de um beijo que nos vicia, de uma alma que nos estonteia.  Um vício de uma discussão calculada, de pazes a serem feitas depois do calor da discussão. Um vício de paz na alma, do aconchego no cair da noite.  Um vício de horas infinitas a viver e a reviver histórias. O amor é um vício bom que nos cega, mas também pode ser mau se nos cegar demais. Um vício mau...quando discutimos demais, ...quando queremos demais, ...quando insistimos demais, mesmo sabendo que já não há nada do outro lado a não ser o abismo, ...quando nos deixamos convencer que é a última vez que sofremos e que ainda seremos felizes neste amor. Um vício mau quando não sabemos dizer basta e caímos num pos...

O importante é não desanimar, não perder a coragem quando estamos quase a chegar à curva, mesmo que não vejamos o caminho para lá dela.  O importante é ir em frente e não perder tempo a olhar para trás a pensar no "se" e no que poderia ter sido se tivesse acontecido de outra maneira. O importante é, mesmo não conseguindo prever as consequências, ter determinação e confiança suficiente para atravessar aquele túnel que não sabemos onde vai chegar. O importante é não nos esquecermos de nós, de quem somos e de quem fomos. Não esquecer os erros que cometemos e que glórias nos levaram até àquele patamar. O importante é sermos humildes o suficiente para percebermos que ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas acima de tudo, o importante é encontrarmos sempre a felicidade nas pequenas coisas que este caminho nos vai dando e permitirmo-nos a aprender e a reconhecer que ainda seremos capazes de mais e de melhor. O importante é sermos nós e pôr em tudo o que fa...

Fecha os olhos e agradece. Agradece por cada segundo que estás vivo, por cada dia que o sol nasce e tu podes ver e sentir. Agradece por cada sorriso sincero, por cada abraço apertado. Agradece por cada momento, mesmo que não seja tão bom quanto esperavas, ele existiu e mudou a tua vida. Agradece por cada pessoa que cruza o teu caminho, por aqueles que fazem "história" na tua história. Agradece pelo tempo que te é concedido, pelos silêncios que te permitem reflectir e perceber se este é o rumo certo que estás a tomar. Pede...pede mais. Pede mais amor, mais compaixão.  Pede mais abraços que duram uma eternidade e te fazem perder no tempo. Pede mais sinceridade, mais sonhos e mais objectivos.  Pede mais garra, mais força de vontade. Pede mais sorrisos genuínos e palavras de conforto. Pede aquilo que é bom e que não custa.  Mas acima de tudo dá...dá de ti a todos e dá tudo de ti.

Despertas-te do fundo de mim de uma forma quase explosiva e que eu não consegui, nem quis conter. Cada vez que te piso e sinto as tuas luzes a reflectirem na minha cara é como se me apaixonasse pela primeira vez mais uma vez, como se sentisse sempre "borboletas na barriga".  Fazes-me renascer num eu que não sou eu. Fazes-me acreditar que as histórias e os contos de fadas poderão ser verdade, nem que seja por breves momentos, onde eu posso fazer parte delas e acreditar que sou eu que vivo aquele momento.  Trazes-me um amor inexplicável, uma vontade de dar tudo naquele momento que é só meu e teu. E quando acaba, fecho os olhos e as lágrimas querem fugir-me dos olhos. Lágrimas de alegria, de dever cumprido, de paixão, de vontade de mais.   E o pano fecha, o nosso momento acaba mas nós não acabamos, porque hás-de sempre reacender-te em mim e eu irei sempre deixar que me leves para o mundo mágico do "faz de conta".

Senta-te aqui, perto de mim. Continuas a deixar-me com aquele friozinho na barriga, mesmo estando tão perto.  Quero olhar-te nos olhos e que vejas que nada mudou, que continuo a querer-te da mesma forma, a sentir saudades tuas e a querer um abraço bem apertado quando fico cansada deste mundo e do outro.  Dá-me a tua mão e sente a força que eu quero que tenhas. Ergue a cabeça comigo e vamos continuar a ver o pôr-do-sol. Vamos calar todas as vozes que soam à nossa volta e vivermo-nos apenas.  O tempo levar-nos-á pelo caminho certo e ensinar-nos-á a ultrapassar todas as dificuldades.  Nós bastamo-nos, basta querermo-nos e agarrarmo-nos como agarramos as nossas próprias vidas.